IEAD - Ministério Belém

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sábado, 20 de agosto de 2016

Assembleianos limparam cemitério cantando

Quatipuru - PA
A história assembleiana é marcada por humilhações de todas as formas. Nossos pioneiros foram severamente perseguidos pelas autoridades e por aqueles que sempre se sentiram serem os donos de tudo e de todos. A perseguição à fé pentecostal é um tema que tenho me dedicado a explorar desde que me dediquei às pesquisas para conhecer as origens de nossa fé pentecostal na grande região do sudoeste mato-grossense.  
Tenho encontrado fragmentos da nossa história assembleiana que revelam o quanto o nosso povo sofreu perseguições desde o início dos primeiros cultos pentecostais em Belém do Pará. Jamais podemos nutrir o ódio contra os nossos antigos agressores nem os que perseguem nesta era pós-moderna. Sempre devemos ter em mente as poderosas palavras de nosso Mestre Amado: 
"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus". Mateus 5.10.
Contudo o passado nos serve como fonte para reflexões e novas tomada de decisões no tempo presente.
Um fragmento da história das perseguições remonta ao ano de 1913 quando a Igreja Assembleia de Deus de Quatipuru – PA sofreu uma grandiosa humilhação. Homens, mulheres e crianças da igreja fundada por Daniel Berg foram obrigados pelas autoridades a limparem o cemitério da cidade e o fizeram cantando cheios do Espírito Santo. Os relatos foram feitos pelo seu biógrafo no livro “Enviado por Deus” publicado pela CPAD. Nesta obra o biógrafo David Berg assim expressou:

“Assim que terminaram de cantar o último hino, o chefe de polícia foi à frente. Pediu silêncio e ordenou aos presentes que permanecessem em seus lugares, onde iam formar em filas, para em seguida se dirigirem à delegacia de polícia. Daniel perguntou de que exatamente estavam sendo acusados, mas disseram-lhe que somente ficariam sabendo na chegada. Não havia escolha. A ordem tinha de ser obedecida. Logo uma longa fila de crentes era vista marchando pelas ruas rumo à delegacia, a cantar louvores a Deus e a adorar o seu nome. Por onde quer que passavam, apareciam pessoas atônitas nas janelas. Algumas abriram-nas para melhor ouvir as músicas que estavam sendo cantadas. Outras os acompanhavam meio a distância para saber o que estava acontecendo. A casa de detenção encheu-se de irmãos orando e cantarolando. O maravilhoso culto que havia sido realizado na igreja teve continuidade ali, e alguns irmãos foram até batizados com o Espírito Santo. Apesar de há muito tempo estarem sem dormir, não sentiam sono, fome ou cansaço. (David Berg 1995, p. 148)
    
A ordem para prenderem os assembleianos foi dada por um senhor rico e poderoso chamado Leandro. Ele e seu irmão detinham toda a influência sobre as autoridades da grande região. Berg prossegue:

Leandro ordenou ao chefe de polícia que os processasse por perturbação da ordem e os encaminhasse ao cemitério da cidade, onde receberiam novas instruções. A intenção de Leandro era assustá-los' Olhou para os crentes e viu o quanto estavam amontoados. As mães abraçavam seus filhos cada vez mais para perto de si'. (p. 149)  

Foram humilhados perante a população quatipuruense, porém eles deixaram o cemitério muito bem limpo. Apesar de tudo o nosso Deus os abençoou fortalecendo-os com seu Santo Espírito.

Berg faz uma observação do direito sobre o fato:

Não havia sido registrada nenhuma queixa contra eles. Não podiam ser acusados de rebelião, pois não haviam induzido, nem obrigado ninguém a segui-los. Pelo contrário, muitos dos que estavam ali haviam se juntado a eles de livre e espontânea vontade, assim que perceberam a felicidade, gozo e convicção que reinava entre eles. (p. 150)

Esse fragmento da história assembleiana merece ser ainda detalhadamente estudado e comparado com a atual situação em que vivemos hoje, sob a emergente volta àqueles tempos de humilhação, vergonha e intimidação social que os primeiros assembleianos sofreram.

E não foi somente em Quatipuru que isso aconteceu: onde brilhou a chama pentecostal houveram perseguições das mais veladas às mais brutais. Em Cáceres temos vários capítulos de perseguições aos assembleianos a partir de 1952. Podemos enumerar alguns:

1 - A gritaria na porta da Igreja no salão da Rua General Osório. Tentativas de vadios organizados por alguns líderes católicos para atrapalhar as orações e louvores a Deus.
2 - As bombas lançadas debaixo da porta da igreja (os cultos de oração eram de portas fechadas por causa das perseguições) estouravam nos pés dos irmãos e irmãs provocando lesões. Ninguém foi responsabilizado na época.
3 - A tentativa de impedimento em 1958 da compra do terreno da Rua Seis de Outubro de propriedade do Dr. Francisco Eduardo Rangel Torres. Esse homem foi um grande amigo da Assembleia de Deus e do Pastor Benedito da Silva. Na época as autoridades católicas queriam proibi-lo de vender o terreno para a igreja. Contudo, o doutor na sua mais correta acepção do Direito Privado compreendeu que deveria fazê-lo sem cerceamento algum de sua liberdade civil. Bravo! Hoje nossa igreja está localizada, em bem localizada, no centro da cidade de Cáceres. Graças primeiramente a Deus e a tenacidade do nosso grande e saudoso pioneiro: Pastor Benedito da Silva.
4 - A tentativa de assassinato do Pastor Benedito e um de seus cooperadores quando se dirigiam de bicicleta à uma antiga fazenda (hoje Fazenda Grendene) para dirigir um culto na casa de um dos irmãos que lá moravam. Deus milagrosamente os livrou, impedindo os criminosos de vê-los e nem de ouvi-los passar.
5 - A acusação de que a igreja receptou objetos furtados. Isso aconteceu na época em que em Cáceres existiam apenas duas máquinas de escrever da mesma marca. Uma era de propriedade da Prefeitura Municipal e a outra da Igreja Assembleia de Deus. A máquina da Prefeitura fora furtada e alguém viu uma idêntica na Igreja e informou aos responsáveis da Prefeitura que ela estava lá. Imediatamente mandaram o delegado prendê-la e processar o pastor Benedito. Porém, o delegado não foi sábio e o acusou de roubo ao ver a máquina na igreja. Pastor Benedito que era muito prudente havia guardado a Nota Fiscal de aquisição e de pronto apresentou-a. O delegado envergonhado pediu-lhe desculpas, achando que ficaria assim só. O que ele ouviu não foi um: "tudo bem, tá desculpado doutor". Não, ele ouviu foi uma enorme repreensão diante de seus subordinados que saiu envergonhado e com a orelha ardendo. Teve que sair curvado diante da autoridade do homem de Deus.

São tantas histórias de perseguições que esse post é pequeno para tanto, porém em outros posts podemos apresentar mais algumas. O propósito destas reflexões é para que todos saibam o quanto a família assembleiana foi e é perseguida na atualidade, e também para que reflitamos, e da mesma forma como o nosso pioneiro, dar as respostas com autoridade inerente à nossa cidadania àqueles que nos perseguem. 

Nestes tempos difíceis precisamos conhecer um pouco da história da nossa dor assembleiana e do quanto queríamos expressar o que guardamos em nosso coração desde nossos pais até o dia de hoje. Cirilo Alves Barbosa, meu saudoso e caríssimo pai, também foi alvo de inúmeras perseguições por pregar o evangelho pentecostal, mas ele foi fiel até o fim e triunfou ao ver a liberdade de crença estampada na nossa Carta Magna - a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.  De posse dessa lei ele pregou sem medo até o dia de sua partida para o céu e se tornou um dos herois da pregação pentecostal por meio do velho alto-falantes. 

Assembleianos, é imprescindível para que não sejamos envergonhados e humilhados como os assembleianos de Quatipuru em 1913, que tomemos posse dos direitos inerentes à nossa cidadania garantida nas leis nacionais e internacionais. Precisamos evidenciá-la a todo o custo e reclamar que a nossa liberdade seja respeitada.